Nove entre dez brasileiros atribuem a Deus sucesso financeiro
DE SÃO PAULO
25/12/2016 02h00
UOL.
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Nove entre dez brasileiros dizem que seu sucesso
financeiro se deve a Deus, mostra pesquisa Datafolha.
A porcentagem supera
90% entre os religiosos, é de 70% entre os sem religião e aparece até mesmo entre
os que se declaram ateus: 23% concordam com a declaração.
Quanto menor a
escolaridade e menor a renda, maior a gratidão a Deus pelas conquistas
terrenas.
Ainda assim, são 77%
os graduados que atribuem responsabilidade divina às finanças, e 7 entre 10 entre
os que têm renda mensal acima de 10 salários mínimos (R$ 8.800, pelo valor
atual).
DINHEIRO
DOS OUTROS
A disparidade de
opinião entre os mais e menos escolarizados, ou entre os mais e menos ricos,
fica ainda mais ampla quando se trata do dinheiro dos outros.
Um terço de quem fez
até o ensino fundamental e 28% dos que ganham até R$ 1.760 por mês concordam com
a frase "As pessoas pobres, em geral, não têm fé em Deus, e por isso não
conseguem sair dessa situação".
Em contraposição, são
apenas 9% os graduados que atribuem pobreza à falta de fé, mesmo índice dos que
ganham mais de R$ 8.800.
O Datafolha ouviu
2.828 brasileiros maiores de 16 anos selecionados por sorteio aleatório, em
amostragem representativa da população.
Feita em 174
municípios, a pesquisa tem margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou
para menos (nível de confiança de 95%).
RELIGIÃO
E ECONOMIA
As origens da pobreza
e as soluções para ela são vistas de forma diferente pelos dois principais
grupos cristãos do país: católicos e evangélicos –termo que, no Brasil, designa
os protestantes históricos, os pentecostais e os neopentecostais.
Há uma parcela maior
(28%) de evangélicos que acham que é a falta de fé em Deus que impede os pobres
de deixarem essa condição.
E enquanto a caridade
é a solução mais citada pelos católicos, para os evangélicos a melhor saída
para os pobres é levá-los para a igreja, segundo pesquisa do Instituto Pew com
2.000 brasileiros.
A prática, porém, é
outra, mostram os dados. Os protestantes são mais ativos não apenas em
arrebanhar fiéis para suas igrejas (43% deles, contra 14% dos católicos).
Eles também fazem
mais caridade (63%, contra 45% dos católicos) e suas igrejas ajudam a achar
emprego para seus membros (56%, contra 35% dos católicos).
NOVO
CAPITALISMO
"Os evangélicos
estão muito mais conectados com a experiência cotidiana", diz o professor
de antropologia da Unicamp e pesquisador do Cebrap Ronaldo de Almeida.
"Essa ligação
com a vida prática gera ânimo, disposição, e isso não é pouca coisa,
principalmente num momento de crise", afirma Almeida.
Assim como o
protestantismo foi capaz de apoiar o progresso financeiro e o lucro no início
da modernidade, as religiões evangélicas conseguiram atualizar seus costumes e
hábitos para se adaptar ao novo capitalismo mundial.
"O discurso de
que os fiéis são capazes de 'se virar', virar patrões de si mesmos, cria um
outro 'éthos' adequado a momentos de precariedade."
A Igreja Universal do
Reino de Deus, que reúne 8% dos evangélicos, organiza cursos de
empreendedorismo e programas de geração de renda: a maioria absoluta (57%) de
seus membros ganha até dois salários mínimos por mês.
A Universal é a maior
representante do grupo neopentecostal, cuja teologia da prosperidade defende o
sucesso material nesta vida como bênção divina, que é estimulada pelo dízimo.
Apesar de ter parcela
maior de fiéis mais pobres, a Universal é a que recebe o maior valor médio
mensal de seus membros, segundo a pesquisa Datafolha.
São R$ 96,5 por mês,
contra R$ 70,3 da Assembleia de Deus (21% dos evangélicos) e R$ 95,8 dos
batistas (segunda maior igreja evangélica, com 13% desse grupo).