Deixam de ser católicos ao menos 9 milhões, afirma Datafolha
DE SÃO PAULO
24/12/2016 16h00
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O Brasil ficou ainda
menos católico. De outubro de 2014 a dezembro deste ano, a primeira religião
cristã do mundo perdeu ao menos 9 milhões de fiéis, ou 6% dos brasileiros
maiores de 16 anos, segundo pesquisa Datafolha.
Há dois anos, eram
60% os que se declaravam católicos; neste ano, são 50%. Como a margem de erro é
de dois pontos para mais ou para menos, a queda foi de no mínimo 6 e no máximo
14 pontos percentuais –nesse cenário, seriam mais de 20 milhões de fiéis (algo
como a população da Grande São Paulo).
No mesmo período, a
fatia dos que dizem não ter uma religião mais que dobrou, de 6% para 14%. Mas
isso não quer dizer que essas pessoas tenham perdido a crença, diz o professor
de sociologia da USP Reginaldo Prandi.
Segundo ele, no mundo
todo é cada vez mais comum que as pessoas não se prendam a uma instituição
religiosa apenas, ou que exerçam a espiritualidade sem pertencer a uma igreja.
"Pode não ter
religião hoje e ter amanhã. Ficou muito ao sabor da época da vida, dos
compromissos que se quer assumir. A religião deixou de ser condição obrigatória
para ser bom cidadão."
"Socialmente, a
religião não tem mais papel nenhum", diz o sociólogo.
O Datafolha ouviu
2.828 brasileiros maiores de 16 anos selecionados por sorteio aleatório, em
amostragem representativa da população.
Feita em 174
municípios, a pesquisa tem margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou
para menos (nível de confiança de 95%).
'IGREJA
ATRAPALHA'
O antropólogo da
Unicamp e do Cebrap Ronaldo de Almeida e o professor de filosofia da religião
da PUC Luiz Felipe Pondé também veem um processo de desinstitucionalização das
religiões.
"A igreja
atrapalha, tira a liberdade, é excessivamente racionalista, interesseira ou
contrária à pureza interior da busca da fé", diz Pondé.
O filósofo lembra que
a recusa à institucionalização está na origem do protestantismo e marca a
história das religiões, "que sempre andam à frente achando que vão
reencontrar o passado puro".
Almeida avalia que os
sem-religião podem incluir também católicos não praticantes ou evangélicos que
preferem não declarar sua filiação.
Estimativas globais
sustentam essas análises. Dados do Centro Global de Estudos da Cristandade
mostram que mesmo os católicos crescem a taxas maiores que a população com um
todo, ou sejam, aumentam sua presença no mundo, enquanto encolhe a fatia dos
não religiosos.
O ritmo de
crescimento da população total é 1,21% ao ano, o de católicos, 1,28%, o de
evangélicos, 2,12% e o de pentencostais, 2,20%. As religiões independentes se
expandem a taxas de 2,21% (chegando a 2,94% na Ásia).
Já os sem-religião
crescem 0,31% por ano, os agnósticos, 0,36%, e os ateus, 0,05%.
No Brasil, ainda que
a redução recente na porcentagem de católicos não tenha sido acompanhada por
expansão de evangélicos, metade dos protestantes saíram da Igreja Católica,
onde foram criados, segundo pesquisa do Instituto Pew.
A mudança de religião
se dá antes dos 25 anos, e os convertidos citam como principais motivos para a
mudança a maior conexão com Deus (77%) e o estilo de culto da nova igreja
(68%).
Mais da metade diz
que procurava mais ênfase em moralidade ou encontrou mais ajuda. Procurada, a
CNBB (conferência dos bispos) não quis comentar.